domingo, 12 de junho de 2011

Dilma muda na articulação

Depois da demissão, na terça-feira, do ministro Antonio Palocci da Casa Civil, a presidenta Dilma Rousseff fechou a semana completando a nova equipe de articulação política e enfrentando a bancada do PT na Câmara. Contra a vontade do partido, a presidenta nomeou a ex-senadora Ideli Salvatti (PT-SC) para a Secretaria de Relações Institucionais e deu um destino surpreendente para Luiz Sérgio (PT-RJ), o alvo da fritura dos colegas nos últimos dias. Apesar de se dizer sem condições de continuar no governo, Dilma impôs a transferência de Luiz Sérgio das Relações Institucionais para o Ministério da Pesca - onde estava Ideli.

Assessores de Dilma disseram ontem que a montagem da nova equipe política foi um "recado explícito" ao PT, mostrando que ela "não aceita prato feito". A presidenta considerou "desrespeitoso" o comportamento de deputados do partido ao atacar o deputado Luiz Sérgio e tentar impor o nome de Cândido Vacarezza (PT-SP) para as Relações Institucionais. Além das manobras em cima dos petistas, Dilma cooptou previamente o PMDB escolhendo o deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS) para o cargo de líder do governo no Congresso.

A nomeação do novo ministro da Pesca teve, segundo resumo feito por um interlocutor da presidenta, várias serventias políticas: 1) ajudou a castigar o PT; 2) serviu de prêmio de consolação para Luiz Sérgio; 3) e poupou o ministro de regressar à Câmara, onde estão os colegas de partido que provocaram seu desgaste no governo e de voltar a ser apenas um de 513 deputados. "Ele continuará sendo um dos 38 ministros e a presidenta ressaltou que "não iria largá-lo em um mar de constrangimento", disse o interlocutor.

Dilma repudiou avaliações dos deputados do partido, apostando que Ideli cairá em poucos meses. A presidenta espera que a forma como agiu para abafar a crise tenha um "efeito pedagógico" e funcione como um "aviso aos navegantes": ela não aceita tutela ou imposições do PT.

Em conversas reservadas, Dilma confidenciou que está "aliviada" com o fim da "pior semana do governo" - até agora. A primeira mudança no grupo político do governo ocorreu na terça-feira, quando a presidenta demitiu o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci - questionado por conta do aumento do patrimônio pessoal -, trocando-o pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-SC). Agora, um triunvirato feminino e com bases políticas na região Sul - Dilma (RS), Gleisi (PR) e Ideli (SC) - irá negociar propostas do governo com senadores e deputados.

A equipe de articulação política de Dilma passa a ser composta por uma petista com apenas cinco meses de experiência no Senado e uma outra que marcou seus sete anos na liderança do governo Lula no Congresso pelos embates que lhe deram fama de mulher de temperamento difícil na relação com parlamentares. Ideli era identificada como uma parlamentar "da tropa de choque" do Planalto.

O triunvirato feminino do governo na articulação vai definir, na próxima semana, o modelo das conversas com os deputados e senadores. A presidenta entende que Ideli precisa e terá mais autonomia que Luiz Sérgio. Os pleitos dos parlamentares serão encaminhados diretamente para Dilma. Nos cinco meses que permaneceu na Secretaria de Relações Institucionais, Luiz Sérgio tinha de passar os pedidos pelo crivo de Antonio Palocci, da Casa Civil.

Ideli promete ser 'comadre de todos'

Brasília (AE) - Com fama de briguenta, a nova ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, declarou que deseja ser uma "comadre de todos", ao definir o relacionamento que manterá com os parlamentares no âmbito de suas atribuições. Ela também adiantou que sua prioridade no novo cargo será aprovar, na próxima semana, a Medida Provisória 527, que flexibiliza as regras de licitações para as obras da Copa do Mundo de 2014. "É a tarefa da hora", definiu.

Em seu último ato como ministra da Pesca - a assinatura de um convênio com o Ministério do Meio Ambiente -, Ideli também apontou como prioridade de sua pasta a aprovação do Código Florestal no Senado de acordo com o "interesse do povo brasileiro e da sustentabilidade".

Ideli participou da primeira reunião com os senadores do PT para discutir o novo código, ao lado de seu antecessor no cargo, Luiz Sérgio, e da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. A petista considerou uma vitória inicial da articulação política do governo a escolha da Comissão de Meio Ambiente como a "comissão de mérito" para votação da matéria, onde o relator é o petista Jorge Viana (AC). "Acredito que teremos um desfecho vitorioso no Senado", declarou.

A nova ministra afirmou que pretende estabelecer um relacionamento com o Congresso nos termos em que construiu com a colega Izabella Teixeira, a quem chama de comadre.

Tribuna do Norte


Marcos Morais- marcosmoraisdopt@hotmail.com

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